"Hollande esteve à altura. E todos os franceses se uniram atrás dele"

Primeira ministra em França com origens islâmicas, Rachida Dati recusa falar da sua experiência pessoal. Ao DN explicou, por email, a importância de acabar com guetos escolares e apostar na aprendizagem para dar uma identidade aos jovens.
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Os responsáveis pelos atentados de Paris contra o Charlie Hebdo e uma mercearia judaica no início de janeiro eram franceses, educados em França e radicalizados aí. O que podem fazer as autoridades para evitar que jovens muçulmanos sigam a via do terrorismo?

É preciso termos cuidado com as palavras que usamos. Não são necessariamente "jovens muçulmanos" que se radicalizam. Vimo-lo há pouco em França, com perfis muito diferentes de pessoas que se radicalizaram. A verdade é que assistimos a um desvio desta religião para cometer o impensável. Estes jovens que se radicalizam não procuram uma espiritualidade, mas sim uma identidade. A pergunta à qual temos de responder é: como evitar que encontrem a identidade numa atividade terrorista. Claro que é preciso reforçar os meios dados aos serviços secretos para detetar comportamentos suspeitos e evitar a sua radicalização. Mas se quisermos tratar o problema pela raiz, a prioridade é a educação. Fala--se muito de reforçar a aprendizagem dos valores da república em França. Não sou contra. Mas é preciso ir além do ensino teórico. A adesão a estes valores faz-se restaurando a autoridade nas escolas, acabando com os guetos escolares que criámos com o "mapa escolar", que junta nas mesmas turmas os alunos mais problemáticos. Temos ainda de revalorizar a aprendizagem para permitir a jovens aprenderem uma profissão logo a partir dos 14 anos se for preciso. Vai favorecer a integração e dar-lhes uma identidade.

Enquanto eurodeputada, o que acha que a Europa pode fazer para evitar novos atentados como os de Paris?

Infelizmente não há uma solução milagrosa. O risco zero é coisa que não existe. Mas, para melhorar a segurança dos europeus, temos de melhorar as ferramentas que temos e reforçar outras. Há duas medidas que me parecem prioritárias: Estabelecer um registo europeu de passageiros [a designação oficial é] PNR - Passenger Name Record. Os socialistas têm bloqueado no Parlamento Europeu este projeto que prevê o envio de alguns dados dos passageiros às autoridades de forma a que estas vigiem movimentos suspeitos. Temos ainda de tornar sistemáticos e mais profundos os controlos das fronteiras externas do espaço Schengen para cidadãos europeus.

A popularidade de François Hollande disparou depois dos ataques. O presidente saiu reforçado desta situação?

A situação é demasiado grave para comentar sondagens de popularidade. Mas o que posso dizer é que François Hollande esteve à altura enquanto líder da nação. E todos os franceses se uniram atrás dele.

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